O comércio varejista catarinense experimentou um crescimento chinês em 2017. Após dois anos seguidos de queda, o setor teve um aumento das vendas de 13,5%, com alta nominal das receitas de 12,8%. Trata-se do melhor resultado entre todos os estados brasileiros. Na média nacional, o crescimento do varejo foi de apenas 2%, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio — que não considera vendas de carros e materiais de construção —, divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A alta de 13,5% também representa o maior crescimento do varejo no Estado desde 2001, ano do início da série histórica (veja o gráfico abaixo).
Entre os setores que puxaram a alta, dois se destacaram: hipermercados e supermercados (25%) e equipamentos e material de informática, escritório e comunicação (24,2%). No caso dos supermercadistas, o presidente da associação do setor (Acats), Paulo Cesar Lopes, considera que o desempenho do segmento pode ser um referencial importante na retomada da economia. Ele diz que a inflação ajudou a alavancar as vendas:
— Acreditamos que o fato de a taxa de inflação estar sob controle, inclusive abaixo da meta do governo, foi uma importante vitória para tranquilizar os setores produtivos e também permitir a manutenção de poder de compra da massa salarial dos trabalhadores.
Para o economista Luciano Córdova, da Fecomercio-SC, o aumento de 13,5% do varejo precisa ser relativizado, já que a base de comparação estava muito achatada devido às quedas de 2015 e 2016. Na avaliação dele, é esperado que o comércio volte aos patamares de antes crise no fim deste ano.
— Acredito que teremos um crescimento mais moderado, entre 5% e 6%. Com isso, poderemos retomar aos níveis de 2013 e 2014 — opina.
O fato que mais chamou atenção na pesquisa, diz Córdova, foi o grande deslocamento entre Santa Catarina e o resto do Brasil. É um indicador de que o Estado está se recuperando de maneira mais rápida:
— Mostra que já temos um mercado interno consolidado. O desemprego relativamente mais baixo também contribui, criando condições para uma retomada mais consistente do consumo.
Comércio melhor que a indústria
Os dados divulgados nesta sexta-feira também indicam que o comércio está se recuperando de uma maneira mais forte que a indústria. Um exemplo é o setor automotivo, que só deve retomar os números de 2012 por volta de 2024, de acordo com estimativas da Fenabrave-SC. A explicação para isso, segundo economistas, vem do fato que o comércio é uma atividade com menos riscos.
—É natural que a recuperação da indústria demore um pouco mais. O volume de investimentos e os riscos envolvidos são muito maiores. É preciso de um cenário mais estável para um crescimento mais forte.
Mesmo com o resultado positivo de 2017, a análise da Fecomercio é que teremos uma "década perdida" nos anos 2010. Isso porque a estimativa dos economistas é que o PIB brasileiro só retome em 2021 os valores atingidos antes da recessão econômica.